Investir em prevenção é a melhor estratégia para controlar o excesso de peso, um importante fator para outras doenças crônicas não transmissíveis
*Por Gilberto Ururahy, médico

Levar um estilo de vida saudável é uma das atitudes mais importantes na prevenção da obesidade — Freepik/ Reprodução
Mais de 50% dos adultos em todo o mundo deverão estar com sobrepeso e obesos até 2050, de acordo com um novo estudo realizado em 204 países, publicado este mês de março na revista científica The Lancet. Priorizar medidas de prevenção é a melhor estratégia para controlar a epidemia global de excesso de peso, um importante fator de risco para outras doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), principalmente problemas cardiovasculares, diabetes e diferentes tipos de câncer.
A epidemia atinge todas as faixas etárias e classes sociais. Em um recente levantamento de dados de mais 250 mil check-ups de executivos realizados na Med-Rio Check-up, constatamos que 65% dos nossos clientes têm sobrepeso.
Atualmente, estima-se que 2,3 bilhões de adultos no mundo estão acima do peso saudável e 700 milhões obesos, segundo o Mapa da Obesidade da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO). E conforme a pesquisa do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel Brasil 2023), do Ministério da Saúde, o índice de obesidade (IMC ≥30 kg/m2) foi de 24,3%, semelhante entre as mulheres (24,8%) e os homens (23,8%) acima de 18 anos, nas 27 capitais e no Distrito Federal.
Ainda no Brasil, 12,9% das crianças brasileiras entre 5 e 9 anos de idade têm obesidade, bem como 7% dos adolescentes na faixa etária de 12 a 17 anos, informa a ABESO.
O cenário apresentado no artigo da The Lancet é uma ameaça ao bem-estar e à economia global. Os autores da pesquisa afirmam que “impulsionado pela crise de obesidade, mais de 1,31 bilhão de pessoas em todo o mundo terão diabetes até 2050”. E ainda: o número de novos casos de câncer relacionados à obesidade deve aumentar para mais de dois milhões globalmente até 2070, “respondendo por 7% de todos os cânceres”.
Com base na análise dos pesquisadores, até 2035, a epidemia de obesidade pode levar a uma redução de 2,9% no produto interno bruto global, o que equivale a uma perda de US$ 4 trilhões.
Portanto, é premente investir na prevenção e no diagnóstico precoce do sobrepeso e da obesidade, e desenvolver intervenções adequadas aos contextos sociodemográficos, econômicos e ambientais de cada país.
E apesar de a obesidade ser uma doença crônica multifatorial, levar um estilo de vida saudável e realizar o check-up médico completo anualmente para diagnóstico são medidas essenciais no controle dessa epidemia.
A propósito, o diagnóstico da obesidade mudou recentemente para ser mais preciso. Por décadas, os médicos usaram o índice de massa corporal (IMC) acima de 30 para avaliar o excesso de peso. Mas um estudo, assinado por 58 pesquisadores na The Lancet Diabetes & Endocrinology, recomendou considerar, além do IMC, a distribuição da gordura corporal — pela medição da cintura, por exemplo — e problemas de saúde devido ao excesso de peso.
Agora o diagnóstico da obesidade é determinado quando a pessoa tem o IMC acima de 25 e uma segunda aferição corporal aumentada. Além disso, o excesso de gordura precisa ter afetado algum órgão ou dificultado a realização de atividades diárias.
Para ilustrar. Uma pessoa musculosa ou atleta, por exemplo, pode ter o IMC de 31. Porém, isso não determina, hoje, que ela é obesa pelo novo critério. E uma pessoa com o índice de 27 (na faixa de sobrepeso) já pode ter a saúde comprometida pelo acúmulo de gordura.
Logo, para reduzir seu risco de sobrepeso e obesidade, procure adotar um estilo de vida saudável. Faça uma alimentação balanceada com orientação de um nutricionista, pratique pelo menos 150 minutos de atividades físicas diariamente, durma bem, evite o consumo de álcool, aprenda a lidar com o estresse do cotidiano, cuide da sua saúde mental e procure manter seus exames médicos em dia.
Saúde é prevenção!
Gilberto Ururahy é médico há mais de 40 anos, com longa atuação em Medicina Preventiva. Em 1990, desenvolveu a Med-Rio Check-up, líder brasileira em check-up médico. É detentor da Medalha da Academia Nacional de Medicina da França, Conselheiro estratégico da ABRH-Brasil e autor de quatro livros: Como se tornar um bom estressado (editora Salamandra), O cérebro emocional (editora Rocco), Emoções e Saúde (editora Rocco) e Saúde é Prevenção (editora Rocco), com o médico Galileu Assis, diretor da Med-Rio Check-up.

